Afrofuturismo
Atualizado: 2 de out. de 2020
O Afrofuturismo é, em sua totalidade, movimento multidisciplinar que engloba vários, senão todos, os tipos de arte. Promovendo o resgate da mitologia e cosmologia africanas, o movimento combina tais elementos com a tecnologia, ciência e um futuro desconhecido.
Sendo assim, é possível nomear afrofuturista a produção artística que se dá pela união entre ficção especulativa, perspectiva e protagonismo negros. Essas denominações podem ocorrer sobre o gênero, personagens ou ambiente da obra.
O movimento surgiu na década de 1960, momento de grande efervescência cultural e do grande boom dos movimentos de direitos civis. O grande pioneiro afrofuturista foi o artista Sun Ra, cujas ocupações eram a música, a poesia e a filosofia. Sun Ra defendia um futuro em que negros estivessem vivos e íntegros em todos os aspectos de suas vidas.
Entretanto, o afrofuturismo vingou mesmo na década de 1990, justamente no pós-guerra dos países africanos. Devido a toda gravidade das perdas e traumas, artistas do continente africano iniciaram movimentos visando acabar com a visão exotizada sobre o povo negro. Assim, começaram a contar as suas histórias de acordo com os seus pontos de vista. Porque, convenhamos, sabemos que todas as histórias contadas até aqui foram perpetuadas pelo colonizador.
Na literatura, o movimento ganhou corpo com Octavia Butler, californiana, autora de livros como Patternmaster e Kindred – primeiro livro da autora traduzido no Brasil. Como crítica à cultura pop, a roteirista Ytasha Womack explora a falta de diversidade nas mídias, questionando a falta de negros e outras minorias no ramo.
No Brasil, há nomes como Fábio Kabral, escritor carioca, que aborda o afrofuturismo em perspectiva nacional. Sexualidade e ancestralidade africana são alguns dos temas tratados pelo autor. Ainda na terra ‘brasilis’, temos a Coletânea Afrofuturismo, organizada pelo escritor Junno Sena, da revista re_CORTE.
Essas produções fazem com que possamos pensar que um povo, que há séculos vem sendo perseguido, assassinado e menosprezado, deve ter o direito de vislumbrar um futuro. Um futuro que não seja vivido em meio à dor, fome, desespero e pobreza.
“É imaginar um futuro em que negros existam. Sonhar que, após serem massacrados por europeus, discriminados por brancos e mortos pelo racismo, negros sobreviveram o suficiente para verem carros voadores e seres de pele esverdeada.”
Esse é um dos trechos mais marcantes da coletânea de contos Afrofuturismo. Em linhas simples, queremos que nos deixem viver. Que nós, pretos, tenhamos sonhos e ambições e que vivamos o suficiente para usufruir disso.
DICAS DE LEITURA
Kindred, Octavia Butler.
Afrofuturism: the world of black sci-fi and fantasy culture, Ytasha Womack
Coletânea Afrofuturismo, Junno Sena e outros autores.
Sankofia, Lu Ain-Zaila.
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