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Foto do escritorGabriela Leite

Biografias: por que lê-las?


Foto: Alex Nemo Hanse/Unsplash

Eu lembro quando Barack Obama venceu as eleições de 2008, nos Estados Unidos. Mas, naquele momento, aquilo não me dizia tanta coisa. Foi ótimo ter o primeiro presidente estadunidense negro, porém eu tinha doze anos. Eu não fazia ideia do que era a vida e, provavelmente, ainda tirava meleca do nariz em público.


O tempo passou, e a presença de Obama me orgulhava cada vez mais. Eu começava a entender a presença de um homem negro no salão oval. Mas, além de Obama (Ou Obaminha, como gosto de chamar), havia uma outra figura emblemática: Michelle Obama. Advogada, esposa, mãe.


Michelle LaVaughn Robinson Obama nasceu no South Side de Chicago, em 1964. Vinda de uma família muito unida e amorosa, Michelle cresceu em um ambiente propício para seu desenvolvimento pessoal e intelectual. Na escola, era muito obstinada, sempre ciente do que queria e do que não a agradava. Foi uma aluna excelente durante a adolescência, tornou-se uma aluna exemplar em Princeton e, depois, em Harvard. Formou-se com louvor, atuou no Direito, em Chicago, mas… descobriu que aquilo não era o que queria para a sua vida. Assim, envolveu-se com justiça e causas sociais.


Não é interessante saber tanto sobre alguém que se admira de longe? Essa foi a sensação quando li a autobiografia de Michelle Obama. E é ainda mais interessante que eu não contei nem 0,1% da história fantástica dela para te despertar curiosidade.


Ler a biografia ou autobiografia de alguém abre portas para que sejamos inspirados, confrontados e até mesmo acalentados por pessoas que admiramos, mas que são distantes de nós. Seja pelo espaço, seja pelo tempo. No início de 2020, prometi a mim mesma que investiria cada vez mais em não-ficção e biografias, afinal, sou um tanto quanto curiosa e um pouquinho fofoqueira e sedenta por detalhes. Embarcar na jornada das biografias me proporcionou muito mais do que eu imaginava que poderia me ocorrer. Michelle me deu forças para uma mudança que eu posterguei há muito tempo: investir em uma carreira na qual sou extremamente apaixonada, a política. Ler cada palavra de seu livro, entender seus pensamentos e saber sobre os sentimentos que a rodeava me deu um boost de autoconfiança. Em mim e em meus processos.


Mesmo Michelle sendo uma mulher maravilhosa, não estamos aqui para falar apenas dela, mas sobre a nova visão literária que sua escrita me proporcionou. Ler uma biografia é ser envolvido por uma história que não é a sua, mas que tem o mesmo peso de valores. Há uma frase, que eu amo, que diz: “não conhecer a História é repetir os mesmo erros do passado”. Bom, a quem pertence essa frase, deixo aqui uma pequena alteração. Em minhas palavras, “não conhecer a história de outras pessoas é um crime”. Bom, né? Brincadeiras à parte, acredito fielmente que entrar em contato com outras vidas reais e narrativas por meio da literatura é um grande divisor de mares.


Eu sempre fui uma fã. Seja de cantores, bandas, filmes. Sempre tive essa admiração por pessoas excepcionais. Com Michelle não foi diferente. Mas, ao adentrar a vida de uma das mulheres que mais admiro, pude compreender outra coisa sobre mim: como eu idealizava pessoas sem fundamento algum. Deixe-me explicar. Admirar a primeira-dama dos Estados Unidos é uma tarefa muito simples, se pararmos para pensar. Ela é a figura perfeita e imaculada que detém todos os ideais possíveis. Ao prosseguir na leitura de sua autobiografia, percebi que Michelle foi uma criança como eu, uma adolescente como eu e uma jovem como ainda sou. Em alguns momentos, confesso que fiquei pensando “hmmm mas ela fez só isso?” porque eu a idolatrava e acabava esquecendo que Michelle é uma mulher. Ela é humana. Ela é imperfeita. Claro que descobrir isso foi um baque, afinal, ela era o meu ideal de pessoa. Acontece que ao entender cada vez mais sobre suas fraquezas, medos e vulnerabilidades, tornei-me cada vez mais fã. Porque, além de admirar a primeira-dama estadunidense, eu passei a admirar uma pessoa real. Uma pessoa que tem o mesmo desejo por justiça que eu, uma mulher que fez o mesmo malabarismo que outras mulheres ao conciliar família e carreira.


Michelle me ajudou a entender que a minha admiração não pode e nem deve ser por algo intocável. Dizem que quanto maior o vôo, maior a queda. E, às vezes, admirar alguém ideal é um vôo alto demais. Entendi que nada pode tomar o lugar de quem sou, pois foi assim que Michelle se tornou quem ela é. Entendi a necessidade de criar novas narrativas e de abrir portas para todas as que virão depois de mim. Entendi que é ok ser uma pessoa real e normal com problemas reais e normais. Aprendi que a caminhada é mais prazerosa que a linha de chegada. E, assim, procuro seguir.


Ler a autobiografia da Michelle Obama abriu uma porta incrível no meu hábito de leitura que era regado a romances, contos e fanfics. Descobri a minha mais nova paixão, a não-ficção. Percebo como tive uma leitura engessada e presa à minha zona de conforto. Adentrar o universo da não-ficção foi o melhor investimento que fiz a mim mesma. Encantei-me com livros técnicos, manuais sobre escrita criativa, relatos de pessoas que sempre admirei, descobri como pensam as mentes que acho fascinante.


Confesso que deixar a minha zona de conforto foi um pouco assustador. Em meio à quarentena, eu pensei “matar ainda mais um hábito que já está desmaiado, Gabriela?”, mas arrisquei. E isso, meus amigos, foi o que nossos pais e avós chamam de must.


Não posso negar que sair da nossa bolha literária é uma coisa extremamente incômoda. É como se você deixasse de ler “O Diário da Princesa” e, de imediato, entrasse em “Guerra dos Tronos”. Não sei se me fiz entender, mas é, de fato, uma mudança um pouco radical. Afinal, nem sempre os finais serão felizes, nem sempre as histórias serão as mais encantadoras. Haverá muita decepção, frustração e até ódio. Mas precisamos entender que a vida real é assim. Às vezes, precisamos “beber um copo de cimento” para enfrentar a vida. E as biografias nos ajudam um pouco nisso. Entender como a realidade funciona é, também, um investimento em nós. Um investimento individual e social.


Se você chegou até aqui, acredito que te deixei um pouco com a pulga atrás da orelha, certo? Separei uma lista de biografias que têm me acompanhado nessa jornada de conhecimento próprio e de outras pessoas. Leia com amor, e lembre-se de que nossas vidas são tão extraordinárias quanto as das pessoas que admiramos.

The Education of An Idealist, Samantha Power

Imagem: Divulgação/Dey Street Books

A autobiografia de Martin Luther King, Martin Luther King

Imagem: Divulgação/Editora Zahar

Minha História, Michelle Obama

Imagem: Divulgação/Editora Objetiva

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